A influência neoclássica se mostrava presente em todos os setores da vida artística europeia no século XVIII. Os artistas desse período compreendiam que o Barroco havia ultrapassado os limites do que se considerava arte de qualidade e procuravam recuperar e imitar os padrões artísticos do Renascimento.
Na Itália, essa influência levou à constituição do Arcadismo, um movimento literário inspira do em uma lendária região da Grécia antiga, a Arcádia. Segundo a lenda, essa região era dominada pelo deus Pan e habitada por pastores, que viviam de modo simples e espontâneo e se divertiam cantando, fazendo disputas poéticas e celebrando e celebrando o amor e o prazer.
Procurando imitar a lenda grega, os italianos criaram em 1690 uma academia literária, denominada Arcádia, que reunia os escritores com a finalidade de combater o Barroco e difundir os ideais neoclássicos. Para serem coerentes com certos princípios, como simplicidade e igualdade, os cultos literatos árcades usavam pseudônimos de pastores gregos, vestiam-se de modo a imitá-los e reuniam-se em parques e jardins para gozar a vida natural.
No Brasil e em Portugal, a experiência neoclássica na literatura se deu em torno dos modelos do Arcadismo italiano, com a fundação e academias literárias, simulação de vida pastoral, ambientação campestre, etc.
Esses ideais de vida simples e natural correspondiam aos anseios do novo público consumidor naquele momento em formação, a burguesia, que historicamente lutava pelo poder e denunciava a vida luxuosa da nobreza.
Leitura
O poema abaixo é de Cláudio Manuel de Costa, pioneiro do Arcadismo no Brasil. Leia-o e procure observar o assunto, aspectos formais do texto: vocabulário, construções de sentido, figuras de linguagens. Após a leitura responda as questões:

LXII
Torno a ver-vos, ó montes; o destino
Aqui me torna a pôr nestes oiteiros;
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Pelo traje da Côrte rico, e fino.
Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Os meus fiéis, meus doces companheiros,
Vendo correr os míseros vaqueiros
Atrás de seu cansado desatino.
Se o bem desta choupana pode tanto,
Que chega a ter mais preço, e mais valia,
Que da cidade o lisonjeiro encanto;
Aqui descanse a louca fantasia;
E o que té agora se tornava em pranto,
Se converta em afetos de alegria.
1. No 1º verso, em, “Torno a ver-vos, ó montes”, o eu lírico do poema traz uma ideia de regresso.
a. De onde vem esse eu lírico e onde ele se encontra?
b. Esse eu lírico tem características urbanas ou rurais?
c. Descreva as sensações desse eu lírico antes do retorno e
como ele se sente agora? Justifique com palavras do texto.
2. De acordo com o poema, contraponha a visão dos dois ambientes mencionados pelo eu lírico.
a. De acordo com o aspecto material;
b. De acordo com o aspecto espiritual;
3. Verifique no texto, referências de elementos da cultura clássica, latina e grega.
Características da linguagem árcade
Estudando o texto, você observou alguns elementos essenciais da linguagem árcade com o desprezo pela vida urbana e o gosto pela paisagem campestre; o ideal de uma vida simples, intima à natureza, presença de aspectos culturais greco-latino, equilíbrio espiritual; racionalismo, cultivo de formas clássicas. O uso de linguagem simples, com vocabulário comum, orações quase sempre em ordem direta, poucas figuras de linguagem. Além dessas características, existem outras que merecem serem destacadas.
Fugere urbem (fuga da cidade): influenciados pelo poeta latino Horácio, os árcades defendiam o bucolismo como ideal de vida, o viver de forma simples e natural, no campo, longe dos centros urbanos, de bem com a vida, enaltece as relações pessoais. Veja um exemplo dessas.
Quem deixa o trato pastoril amado
Pela ingrata, civil correspondência
Ou desconhece o rosto da violência,
Ou do retiro a paz não tem provado
Trato: lugar ou de vida
Civil correspondência: a vida na cidade.
Civil correspondência: a vida na cidade.
Aurea mediocritas (vida medíocre materialmente, mas rica espiritualmente): outro traço presente no Arcadismo e oriundo da poesia horaciana é, como no soneto lido, a idealização de uma vida pobre e feliz no campo, em oposição à vida luxuosa e triste na cidade.
Se não tivermos lãs e peles finas,
podem mui bem cobrir as carnes nossas
as peles dos cordeiros mal curtidas,
e os planos feitos com as lãs mais grossas.
Mas ao menos será o teu vestido
Por mãos de amor, por minhas mãos cosido
Cosido: tecido, costurado.
Carpe diem: o desejo de aproveitar o dia e a vida enquanto é possível, ideia bastante explorada no Barroco, é retomado pelos árcades e faz parte do convite amoroso, como estes versos de Tomás Antônio Gonzaga:
Ah! Não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
o estrago de roubar ao corpo as forças,
e ao semblante a graça!
Arcadismo e as Influências do Iluminismo.

O Arcadismo está associado ao Iluminismo, nome que se dá ao conjunto de tendências que marcaram o final do séc. XVII e o séc. XVIII.
Ao contrário do Barroco, o Arcadismo valoriza a razão, que é sinônimo de bom senso e impede o homem de entregar-se aos caprichos do coração e da fantasia. Por isso, aqui, o estilo Barroco não mais ocupa um lugar priveligiado, pois é considerado exagerado, extremamente emocional e desequilibrado. O Arcadismo surge, então, como uma reação contrária ao Barroco.
No Brasil, um grupo de escritores mineiros começam a divulgar as idéias iluministas, o que fará fermentar os ideais de libertação do país. O descontentamento geral da população, das região das minas, com as medidas abusivas da administração portuguesa, culminará na Inconfidência Mineira (1789), da qual participam muitos escritores árcades.
Atividades de Apreensão:
1. Na música de Erasmo Carlos e Roberto Carlos – Além do Horizonte busque identificar as características do Arcadismo. Justifique com palavras do texto.
Além do Horizonte
Além do Horizonte deve ter
Algum lugar bonito pra viver em paz
Onde eu possa encontrar a natureza
Alegria e felicidade com certeza.
Lá neste lugar, o amanhecer é lindo
Com flores festejando mais um dia que vem vindo
Onde a gente pode se deitar no campo
Se amar na relva, escutando o canto dos pássaros.
Aproveitar a tarde sem pensar na vida
Andar despreocupado sem saber a hora de voltar
Bronzear o corpo todo, sem censura
Gozar a liberdade de uma vida sem frescura.
a. O conceito de Fugere urbem (Fuga da Cidade).
b. O conceito de Aurea mediocritas (vida medíocre, rica em realizações materiais).
c. O conceito de Carpe Diem (Aproveite o momento).
d. Em sua opinião, a letra da música traz uma ideia de não preservação ambiental? Justifique sua resposta.
d. Em sua opinião, a letra da música traz uma ideia de não preservação ambiental? Justifique sua resposta.
2. Leia o texto abaixo para responder as próximas questões:
A Súplica da Árvore – Cecilia Meirelles
Tu, que passas e levantas contra mim o teu braço,
antes de fazer-me o mal, olha-me bem.
Eu sou o calor do teu lar nas noites frias de inverno.
Eu sou a sombra amiga que te protege contra o sol de dezembro.
Meus frutos saciam tua fome e acalmam tua sede.
Eu sou a viga que suporta o teto de sua casa,
e a cama em que descansas.
Sou o cabo das tuas ferramentas, a porta de tua casa.
Quando nasces, tenho a madeira para teu berço, quando morres,
em forma de ataúde ainda te acompanho ao seio da terra.
Sou ramo de bondade e flor de belezas.
Se me amas como mereço, defende-me contra os Insensatos.
a. De acordo com o fragmento, explique quem é o eu lírico da do poema?
b. O que há em comum entre esse poema de Cecilia Meirelles, com as questões de meio ambiente que observamos nos dias de hoje. Justifique sua resposta.
c. Explique qual a ideia de sentido que o autor quer transmitir através do poema. De que maneira ele procura construir esses sentidos.
3. De acordo com as ideias de Arcardimo que tratamos até aqui, produza um texto argumentativo sobre os motivos pelos quais o homem destrói a natureza.